Londres, século XIX: um palco para a eloquência e os excessos da fé
Edward Irving, um pastor presbiteriano que cativou Londres com sua eloquência entre 1822 e 1834, é considerado um precursor do movimento carismático. Sua trajetória, contudo, oferece lições importantes sobre os perigos do extremismo religioso e da busca desenfreada pelo espetacular.
Conhecido como o “maior pregador de sua época”, Irving possuía um intelecto brilhante e um carisma magnético que atraía multidões. No entanto, sua inclinação por especulações teológicas o conduziu a um caminho controverso. A partir de 1829, passou a defender a restauração dos dons apostólicos, como línguas, curas e profecias.
Essa crença, que permeou seus sermões, culminou na manifestação desses dons dentro de sua própria igreja. Irving permitiu a prática e instituiu até mesmo uma ordem de “Profetas e Apóstolos” em sua congregação. Tal postura, naturalmente, gerou divisões e críticas.
Os últimos cinco anos de vida de Irving foram marcados por intensas controvérsias. Sua teologia, cada vez mais próxima do pentecostalismo, levou à sua destituição do pastorado pela Igreja Presbiteriana. O movimento que ele havia iniciado, longe de seu controle, mergulhou em extremismos e abusos.
Apesar de defender os dons espirituais, Irving nunca afirmou possuí-los. Testemunhando os excessos de seus seguidores e a ausência de curas genuínas – algo que ele aguardava com grande expectativa –, Irving se viu profundamente decepcionado. Morreu aos 42 anos, doente e desiludido.
Após sua morte, sua igreja transformou-se na “Igreja Nova Apostólica”, presente até hoje em diferentes países. A história de Irving serve como um alerta sobre os perigos da busca cega pelo extraordinário. Sua trajetória nos convida a buscar um cristianismo equilibrado, baseado não em espetáculos, mas na genuína busca por Deus e na transformação do coração.
Pr. Max Mendes – Fundador do Papo com Deus