Início Destaque 2300 Tardes e Manhãs

2300 Tardes e Manhãs

0

Introdução
Neste artigo, realizaremos uma análise interpretativa da passagem de Daniel 8, focando especificamente na questão das 2300 tardes e manhãs.
Nosso método hermenêutico buscará conciliar as perspectivas sincrônica e diacrônica.
A análise proposta restringir-se-á a uma investigação textual, evitando ao máximo interpretações que extrapolem as diretrizes estabelecidas. O objetivo primário é situar o texto em seu contexto histórico original, isto é, compreender como ele dialoga com o tempo contemporâneo do autor, relacionando com sua cultura, política, economia e religiões. Por fim, vamos nos concentrar na fase final do texto, buscando uma aplicação teológica que fuja de excessivas místicas e abstrações.
Espera-se que este artigo contribua significativamente para o enriquecimento teológico dos leitores e para aprofundar a compreensão desta difícil, porém importante passagem bíblica.

O texto
E de um deles saiu um chifre muito pequeno, o qual cresceu muito para o sul, e para o oriente, e para a terra formosa.
E se engrandeceu até contra o exército do céu; e a alguns do exército, e das estrelas, lançou por terra, e os pisou.
E se engrandeceu até contra o príncipe do exército; e por ele foi tirado o sacrifício contínuo, e o lugar do seu santuário foi lançado por terra.
E um exército foi dado contra o sacrifício contínuo, por causa da transgressão; e lançou a verdade por terra, e o fez, e prosperou.
Depois ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando durará a visão do sacrifício contínuo, e da transgressão assoladora, para que sejam entregues o santuário e o exército, a fim de serem pisados?
E ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado. Daniel 8:9-14

Realizaremos a interpretação textual dos versos 9 a 14. Idealmente, a análise deveria abranger o texto a partir do verso 1; no entanto, devido a limitações de tempo, focaremos a interpretação a partir do verso 9.

Contexto histórico
O primeiro passo para uma interpretação bíblica acurada é situar o texto em seu contexto histórico, identificando os eventos contemporâneos a que o texto possa estar se referindo. É essencial reconhecer que a Bíblia foi formada dentro de um contexto histórico específico e que, antes de ser direcionada a um público futuro, o texto foi originalmente destinado a uma sociedade ou povo distante do nosso momento atual.Portanto, nosso ponto de partida é compreender como o texto de Daniel 8 se relaciona e dialoga com o contexto histórico-cultural de sua época.

Daniel 8:9 – Um pequeno chifre. Parece ser uma referência ao rei selêucida, Antíoco IV Epifânio, cujas suas atividades no século II foram bastante intensas. (Não vamos fazer uma abordagem exaustiva desse personagem aqui)

Daniel 8:9 – Terra magnífica. A partir de Daniel 11: 16 – 41, fica claro que essa é uma referência á terra de Israel. Antíoco III marchou para o leste contra a Pártia, Armênia e Báctria de 212 a 205 a.C, e no ano 200 a.C. Conseguiu o controle da Palestina na batalha de Pânias. Ele e seu filho, Antíoco IV, não foram bem sucedidos em suas tentativas de obter controle sobre o Egito (Sul). Antíoco IV também fez campanhas no Oriente e se tornou conhecido por suas ações contra Judá e Jerusalém

Daniel 8:10 – Atirou na terra parte do exército das estrelas. O Exército dos céus no antigo oriente próximo é uma referência á assembleia dos deuses, muitos dos quais eram representados por corpos celestes. A Bíblia ás vezes usa a expressão para se referir ao culto ilegítimo dessas divindades ( Dt 4:19 ). Em outras ocasiões, a expressão é usa para descrever o concílio dos anjos diante de Deus ( 2Cr 18:18). Um terceiro emprego do termo é como referência a anjos rebeldes
( Talvez Is 24:21), comum na literatura intertestamentária. Finalmente, a expressão pode referir-se simplesmente as estrelas, sem nenhuma personalidade atreladas a elas ( Is 40:26).

Importante saber também que na destruição descrita no Mito de Erra e Ishum, uma obra literária da antiga Mesopotâmia, Erra diz que faria os planetas caírem em seu esplendor e arrancaria as estrelas do céu.

Neste contexto, o “exército das estrelas” simboliza um elemento de batalha cósmica escatológica, um conceito bastante comum naquela época. Eles caem temporariamente como vítimas do chifre maligno, sugerindo que representam figuras favorecidas por Deus.

Daniel 8:11 – Sacrifício Diário. O Sacrifício diário era um holocausto que ocorria todas as manhãs e tardes ( Ex 29:38, Mn 28:1-8). Representava o sustendo básico do santuário e era fundamental para preservar a presença de Deus no meio do Povo

Daniel 8:14 –2300 tardes e manhãs. Se 2300 sacrifícios deixarem de ser oferecidos sendo dois ao dia, 1.150 dias (aproximadamente três anos e dois meses) se passarão, Antíoco IV, instituiu o sacrifício a seus deuses no tempo no dia 25 de quisleu (Dezembro), no ano de 167 a.C, colocando um fim aos rituais judeus pouco tempo antes naquele mesmo ano, relato que pode ser encontrado em 1Mc 1:44-51, embora não se saiba a data exata da proclamação e execução desse decreto. A rededicação do templo, após a revolta dos Macabeus, aconteceu três anos após o dia da profanação do templo, no dia 25 de quisleu de 164 a.C. E ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.

Aprofundaremos agora na exegese do verso 14 de Daniel 8. Caso a linguagem empregada seja similar à de Gênesis 1, os 2300 dias podem referir-se literalmente a esse número de dias (2300 dias). Se o sacrifício de “tardes e manhãs” for contabilizado separadamente, poderíamos estar falando de 1.150 dias. O número pode também ter um significado simbólico.
Independentemente da interpretação correta, a mensagem central do texto é clara: Deus determinou o período durante o qual Antíoco poderia cometer suas atrocidades contra o povo de Deus, até a purificação do santuário. Embora o início desse período não esteja claro, seu ponto final é marcado pela dedicação do templo de Jerusalém após a profanação por Antíoco IV. Essa dedicação do templo em 165 a.C. originou a chamada festa da Dedicação (Hanucá), celebrada pelos judeus até os dias atuais.

Parece evidente, portanto, que o contexto histórico de Daniel está relacionado aos acontecimentos da profanação do templo por Antíoco IV e à restauração efetuada pelos Macabeus, no intervalo temporal referido como 2300 tardes e manhãs. Avançaremos agora para tentar fazer uma aplicação teológica dessa passagem ao contexto contemporâneo da igreja.

Aplicação Teológica
O fato de esta visão ter sido revelada a Daniel indica que, apesar do horror dos acontecimentos e da grande profanação perpetrada pelo imperador, todos esses eventos são conhecidos por Deus e, de forma misteriosa, fazem parte de Seus propósitos. Isso inclui o “chifre pequeno”, cuja ascensão não ocorre por sua própria força e cuja queda acontecerá sem auxilio de mãos humanas, pois todos os eventos e ações do mundo estão sob o domínio do nosso Deus.
Portanto, é importante ter em mente que a visão não se limita a prever eventos futuros da história, mas seu objetivo e oferecer uma compreensão clara da natureza do mal e da sua obra de destruição da vida e oposição à santidade, com enfoque na profanação da adoração do povo de Deus.

A partir dessa revelação, Daniel aprende lições vitais que são fundamentais para a igreja atual:
1- Não devemos nos deixar enganar por uma falsa sensação de segurança.

2 -No final, Deus destruirá toda a oposição a Ele e toda a obra que gere morte.

3 – O foco de Deus não está nos grandes impérios, mas sim no povo da Sua aliança.

Aplicação Escatológica
Dentro das interpretações escatológicas sobre o fim dos tempos, as referências às 2.300 tardes e manhãs em Daniel 8 são interpretadas de maneiras diversas. Algumas correntes associam esse período a eventos históricos específicos, enquanto outras consideram uma contagem simbólica de dias representando um período mais amplo. As mais conhecidas são:

Interpretações Históricas: Alguns estudiosos vinculam as 2.300 tardes e manhãs a um período histórico específico, frequentemente associado à perseguição religiosa ou a eventos ligados a figuras históricas, como Antíoco IV Epifânio.

Interpretações Futuras: Algumas correntes escatológicas veem essas 2.300 tardes e manhãs como uma profecia ainda não cumprida, representando um período específico de tribulação ou eventos significativos no futuro, muitas vezes associados ao fim dos tempos.

Abordagens Simbólicas: Outras interpretações veem o número como simbólico, não necessariamente vinculado a um período literal de dias, mas representando uma duração mais ampla de eventos significativos.

Fizemos um vídeo com a interpretação Simbólica desse estudo você pode se aprofundar caso deseje conhecer mais, clique no link do youtube abaixo!

2300 Tardes e Manhãs  | Estudo 249


Bibliografia
Bíblia de Estudo Thomas Nelson
Comentário histórico cultural – Antigo testamento Comentário Vida Nova
Comentário de Daniel – Hernandes Dias Lopes
Aqueles da Bíblia – Daniel Raike
Artigo Ética apocalíptica, cristãos do fim-dos-tempos e a tomada do Capitólio dos Estados Unidos (Nancy J. Duff)


Autores
Euber Lucas, é Professor, escritor, teólogo, licenciado em História.
Especialização em Fundamentos do Ensino de Filosofia e Sociologia, Bacharelando em Teologia pela UNICESUMAR /PR e cofundador do Instituto Bíblico Discipular

Max Mendes, é pastor, professor de teologia, fundador do Instituto Bíblico Discipular e do Canal Papo com Deus no YouTube. Bacharelando Teologia pela Unicesumar/PR e Seminário da Way House Church Arujá/SP


SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

plugins premium WordPress

Receba os estudos no seu celular

Entrar no Grupo para receber

Sair da versão mobile